Tel: +55 11 5904-2881 - Whatsapp: +55 11 97572-1403

Capítulo Brasileiro da Internacional Association for the Study of Pain - IASP


Dor Orofacial no Idoso

Comitê de dor no idoso

Por definição, dor orofacial é toda a dor associada a tecidos moles e mineralizados (pele, vasos sanguíneos, ossos, dentes, glândulas ou músculos) da cavidade oral e da face. Usualmente, essa dor pode ser referida na região da cabeça e/ou pescoço ou mesmo estar associada a cervicalgias, cefaléias primárias e doenças reumáticas como fibromialgia e artrite reumatóide. (1)

Um fator complicador para a assistência à terceira idade é a situação de complexidade clínica freqüentemente encontrada com o envelhecimento: co-morbidade, mecanismos de adaptação, vulnerabilidade orgânica, apresentação atípica de doenças e maior suscetibilidade à iatrogenia.(2)

Além das doenças de ordem sistêmica, os medicamentos usados pelos idosos têm impacto sobre o ambiente bucal. Em uma ampla revisão sobre o assunto, Paunovich et al. (3) relataram que a maioria das drogas prescritas com mais frequência têm potencial de efeitos colaterais na boca. Já no sentido inverso, tem-se o efeito do desequilíbrio da saúde bucal sobre a saúde geral do indivíduo, com implicações às vezes dramáticas na qualidade de vida e no bem-estar do idoso. (2)

Outro aspecto interessante a considerar que afeta de forma importante a qualidade de vida é que aproximadamente 45% do córtex sensorial humano é dedicado à face, boca e estruturas orais. Esse grau de dedicação sensorial sugere que essas estruturas têm alta significância para o indivíduo (4, 5)

DTM (disfunção temporomandibular)

A articulação temporomandibular (ATM) é a única articulação móvel do crânio. É considerada a mais complexa do corpo humano, por duas razões: é a única que permite movimentos rotacionais e translacionais, devido à articulação dupla do côndilo.(6)

DTM é um conjunto de manifestações clínicas de má função mandibular, associadas ou não à dor, que são geradas por agentes agressores à integridade morfológica ou funcional do sistema temporomandibular, composto por músculos mastigatórios, as ATMs, tendões e ligamentos associados.(7). É a causa mais comum de dor não infecciosa e não dental na região orofacial. (8)

As DTMs podem ser clas­sificadas em dois grandes subgrupos: as de origem articular, e as de origem muscular nas quais os sinais e sintomas relacionam-se com a musculatura estomatognática. A DTM tem etiologia multifatorial e está relacionada com fatores estruturais, neuromusculares, oclu­sais (perdas dentárias, desgaste dental, próteses mal adaptadas, cáries, restaurações inadequadas (8).

Os sintomas mais frequentemente relatados pelos pacientes são: dores na face, ATM e/ou músculos mastigatórios, dores na cabeça e na orelha, manifestações otológicas como zumbido, plenitude auricular e vertigem. Quanto aos sinais, encontram-se primariamente

a sensibilidade muscular e da ATM à palpação, limitação e/ou incoordenação de movimentos mandibulares e ruídos articulares. (1)

Durante o processo de envelhecimento, pode haver sobrecarga funcional na ATM, provocada pela falta de reposição de dentes perdidos, hábitos parafuncionais, oclusão deficiente ou por trauma. (7,9)

Fisioterapia

Considerando-se a diversidade e a complexidade do idoso, a atuação de uma equipe interdisciplinar torna-se fundamental, na medida em que participa, analisa e integra conhecimentos específicos de diversas áreas com o objetivo comum de promover e manter a saúde do idoso.(2)

A possibilidade da dor orofacial possuir componente de origem muscular deve ser considerada em cada queixa. Mesmo quando a causa primária não é muscular, os efeitos excitatórios centrais tendem a ser expressos nos músculos, o que torna esta uma complicação frequente acompanhando outras fontes de dor (6)

É importante, no entanto, ressaltar que dor muscular é muito mais complexa do que o simples uso excessivo e fadiga. A dor muscular associada aos músculos da mastigação não parece estar fortemente correlacionada com o aumento da atividade, como o espasmo, mas sim, grandemente influenciada pelos mecanismos centrais (6, 10)

Sendo assim, a utilização de procedimentos fisioterapêuticos é essencial. Não compete à fisioterapia remover a etiologia da hiperatividade muscular causada pelo estresse e tensão, levando o indivíduo a apertamento noturno e/ou diurno; porém, podemos agir nessa musculatura com manobras de relaxamento e reeducação postural, que promoverão grande melhora na sintomatologia, principalmente nas crises dolorosas (4,6)

DTM x Postura

Um grande número de trabalhos de pesquisa enfatiza, sob diversos prismas, a interação anatômica e funcional entre a região da cabeça e a coluna cervical. Poucos, entretanto, têm enfatizado a correlação entre postura corporal global e sistema estomatognático. A inter-relação da coluna cervical com o sistema estomatognático é de relevância, dado que toda e qualquer alteração biomecânica promovida por uma variação de postura corporal global deve, segundo a teoria de cadeias musculares, remanejar articulações e grupos musculares na região da coluna cervical, a fim de promover possíveis variações na postura mandibular (6)

Os distúrbios da região cervical constituem um conjunto de sinais e sintomas crônicos que afetam a região cervical e estruturas associadas. A dor pode ou não irradiar para o ombro, braço, região interescapular ou, ainda, à própria cabeça. Muitos autores concordam com o fato de que as DTM podem apresentar, além dos sinais e sintomas encontrados no sistema estomatognático, manifestações clínicas compatíveis com distúrbios da região cervical.(6,11)

Esses estudos sugerem que existe uma conjugação funcional recíproca entre a musculatura mastigatória e certos grupos musculares responsáveis pela manutenção da postura e movimentação de cabeça e pescoço. Discrepâncias funcionais, hiperatividade muscular ou distúrbios ortopédicos em uma região possivelmente poderiam gerar sintomas ou provocar alterações posturais na outra. (6)

Apesar de exaustivas explicações fisiopatológicas teóricas, existem poucos trabalhos clínicos que conseguiram relacionar cientificamente a postura anterior da cabeça ou desvios de postura corporal à sintomatologia das DTM (6,11), sendo necessário pesquisas sobre o assunto.

Referências

  1. Shinkai RSA, Del Bel Cury AA. Termo do 1º Consenso em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial. Dental Press Journal of Orthodontics, v.15, n.3, p.114-120, 2010
  2. Shinkai RSA, Del Bel Cury AA .O papel da odontologia na equipe interdisciplinar: contribuindo para a atenção integral ao idoso. Cad. Saúde Pública vol.16 n.4 Rio de Janeiro Oct./Dec. 2000
  3. Paunovich E D.; Sadowsky JM & Carter P. The most frequently prescribed medications in the elderly and their impact on dental treatment. Dental Clinics of North America, 41: 699-726. 1997
  4. Abdulla A, Adams N, Bone M, Elliot AM et al. Guidance on the manegement of pain in older people. Age and Ageing 42:i1-i57, 2013
  5. Piozzi R, Lopes FC. Desordens temporomandibulares – Aspectos Clínicos e Guia para a Odontologia e Fisioterapia. Jornal Brasileiro de Oclusão, ATM e Dor orofacial. Ano 2 . v 2 n.5 (2002)
  6. Munhoz WC. Avaliação global da postura ortostática de indivíduos portadores de distúrbios internos da articulação temporomandibular: aplicabilidade de métodos clínicos, fotográficos e radiográficos. (Tese de mestrado USp 2001)
  7. Marques de Almeida LH, Farias ABL, Soares MSM, Cruz JSA et al. Disfunção temporomandibular em idosos. RFO v.13 n.1 p 35-38 2008.
  8. Como publicado no capítulo 15 do livro:Atualização na Clínica Odontológica,de Feller,C.,Gorab,R,SãoPaul0,Editora Artes Médicas,2000,p.469-487.
  9. Cavalcanti MOA, Disfunção Temporomandibular e Dor orofacial em idosos: Oimpacto na qualidade de vida. (tese doutorado Puc Rio Grande do sul 2014)
  10. Oliveira KB, Pinheiro ICO, Freitas DG, Gualberto HD et al. A abordagem
  11. Fisioterapêutica na disfunção da articulação temporomandibular.
  12. Review. Med Reabil 2010; 29(3); 61-4
  13. Freire AB, De Nardi AT, Boufleur J, Chiodelli L, et al. Abordagem
  14. Fsioterapêutica multimodal: efeitos sobre o diagnostico e a gravidade da disfunção
  15. Temporomandibular. Fisioter.mov. vol 27 , n 2, 2014
Voltar Topo Enviar a um amigo Imprimir Home