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Capítulo Brasileiro da Internacional Association for the Study of Pain - IASP


Aliviando a dor do câncer de outras formas

A dor é, sem dúvida, um dos sintomas mais temidos por todos os pacientes portadores de câncer, desde suas fases iniciais. Tal medo se justifica em estatísticas que dizem que a dor acomete 60 a 80% desses pacientes, sendo 25 a 30% na ocasião do diagnóstico e 70 a 90% nas fases mais avançadas da doença, sendo aí mais comumente classificada como moderada a grave1.

Neste contexto, é imperioso, como já dissemos em outros textos neste site, a avaliação e controle impecável da dor, através de medicamentos e outras técnicas não medicamentosas, multiprofissionais, para dar ao paciente toda qualidade de vida que lhe for possível, no decorrer do seu tratamento, ou até mesmo e talvez principalmente, em suas fases mais avançadas.

Por outro lado, não podemos esquecer de que, no enfrentamento da dor, existem outras condutas, relacionadas a outros problemas que “caminham” juntos com a mesma. Existem outras alterações que, se devidamente medicadas e controladas, contribuirão, mesmo indiretamente, para o alívio da dor oncológica.

Constipação intestinal por exemplo. A famosa “prisão de ventre”. É algo muito comum, muitas vezes relacionada até mesmo com os próprios medicamentos utilizados para dor. Trata-se de um erro ficarmos focando apenas no analgésico, aumentando sua dose e esquecendo de que uma medida simples, como um laxativo ou até mesmo um supositório, poderia trazer um alivio imenso, mais talvez até do que o próprio analgésico em si.

E isso vale para outras alterações, como náuseas, vômitos, falta de ar, insônia.... Muitas dessas alterações são passíveis de tratamento adequado e, se controladas, contribuirão indiretamente para o alívio da dor oncológica.

Já vi pacientes com dor oncológica torácica, por exemplo, melhorarem suas dores na totalidade com o tratamento de sua asma, que fez diminuir as crises de tosse e a sensação de falta de ar.

Outros pacientes, apenas por dormirem melhor, com ou sem o uso de algum tipo de indutor de sono, tiveram a dor relacionada ao câncer aliviada de forma significativa, diminuindo, inclusive, a necessidade de resgates com medicamentos analgésicos.

Aspectos emocionais também devem ser valorizados, claro. A depressão, que muitas vezes caminha junto com a doença, é fator amplificador da dor, por aumentar sobremaneira a sensibilidade do paciente, por um lado, e diminuir sua capacidade de enfrentamento, por outro. Identificar e tratar adequadamente este problema pode, sem dúvida, trazer grande alivio, além de emocional, também físico.

Só atingiremos esse objetivo se trabalharmos em equipe. Uma equipe treinada, incluindo o próprio cuidador e família, é capaz de prevenir e identificar todos esses aspectos relacionados de forma precoce e atuar com a devida competência para adequado controle e tratamento. São detalhes que farão toda a diferença.

Não basta apenas aumentar a dose do opióide, aumentando com isso a intensidade de efeitos colaterais. É necessário entendermos tudo aquilo que esteja relacionado à ausência de melhora com a dose em uso, entendendo o paciente como ser humano multidimensional, para além de sua doença em si.

O paciente tem que ser ouvido e absolutamente todos os seus sintomas devem ser valorizados.

Fonte:

  1. I Consenso Nacional de Dor Oncológica da sociedade de Anestesiologia do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro; 2003. Disponível em: www.saerj.org.br.
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