Declarações
Mariana Schamas
Cinesiologista pós-graduada em Cuidados ao Paciente com Dor, pelo Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês
É muito importante conscientizar a população sobre qualquer tipo de dor, e é esse o trabalho que nós, que atendemos aqueles que sofrem de dor, em conjunto com a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) e, sua representante nacional a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED) promovemos: quando durante um ano inteiro divulgamos informações sobre uma dor específica. Neste ano abordaremos a dor articular, que acomete boa parte da população, seja por doença degenerativa; por trauma; por cirurgia; ou de ordem neuropática.
Há um grande grupo de pessoas que sofrem com dores articulares nos membros inferiores e/ou na coluna – por isso é fundamental divulgarmos, por meio dessa ação, que dor não é normal. Inclusive, atualmente, contamos com diversas medidas para gerenciamento e tratamento, haja vista que na maioria dos casos não existe uma cura específica.
Assim, com o Ano Mundial da Dor Articular desejamos levar à população informações sobre as opções existentes para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Desejamos, primeiramente, munir a todos com conhecimento sobre a dor articular, em particular: no site da SBED estará disponível uma lista com clínicas especializadas em dor de todo o Brasil. A conscientização é o primeiro grande passo para entender seu problema e, então, buscar profissionais habilitados para tratar da melhor forma possível; a dor é subjetiva e individual.
O exercício físico tem papel fundamental para tornar esta jornada mais leve. Desta forma, há cinco anos a SBED apoia a Caminhada Pare a Dor, que acontece as terças e quintas, no Parque Ibirapuera, às 8h30. Unindo forças, tenho certeza que o Ano Mundial da Dor Articular será eficiente e com alcance amplo, chegando a todo o Brasil.
José Tadeu Tesseroli de Siqueira
Supervisor da equipe de dor orofacial do Hospital das Clínicas FMUSP
A cada ano, um tema específico ligado à dor é escolhido para ser o mote dessa campanha, com o objetivo de despertar a atenção dos profissionais de saúde sobre o impacto da dor na sociedade. Em 2016, o foco principal é divulgar com maior amplitude a dor articular, que possui alta prevalência na população mundial, principalmente em idosos.
No meu caso, como dentista, pretendo dar grande visibilidade às articulações mandibulares, que se envolvem em diversos tipos de doenças e anormalidades. Precisamos divulgar no meio os tratamentos disponíveis e os avanços do conhecimento científico, para garantir que todos os envolvidos no tratamento da dor se atualizem a respeito.
Lembrando que a campanha se estende à população e aos gestores de saúde. Disseminaremos informações importantes sobre as doenças que mais afetam as articulações e vamos aproveitar a força da SBED para orientar os pacientes a procurar serviços corretos e especializados.
Dra. Dirce Navas Perissinotti
Diretora Administrativa da SBED
Os pacientes com dores articulares merecem ter mais informações sobre o curso da doença e as possibilidades de tratamento – acometimento é intenso na população, especialmente nos acima dos 40 anos. Existem várias intervenções para barrar a dor que a população, em grande parte, não sabe: a proposta do Ano Mundial da Dor Articular vem de encontro a este cenário e a preocupação da nossa gestão, que consiste em informar a população sobre diferentes maneiras de alivio e tratamento da dor.
Na minha área, Psicologia, deparo-me com pacientes com dificuldades de relacionamento social, problemas no trabalho, ansiedade e depressão causados pela permanência do estado de dor e por terapêuticas que não proporcionam o alivio desejado. Por exemplo, após intervenção cirúrgica articular imagina-se que a recuperação é imediata, e não é; pode levar até mais de um ano. A carência tipo de informação leva ao desespero – em muitos casos os pacientes sofrem de ansiedade exatamente porque se decepcionam com o que se espera de uma intervenção.
Estamos planejando alguns passos da campanha, inclusive o Comitê de Saúde Mental e Dor está preparando algumas ações que poderiam elucidar a parte psicológica, amplamente comprometida pela dor articular. A limitação do movimento leva a limitação de vivencias do paciente. Essas limitações devem ser consideradas, pois permitirão melhor prognóstico no tratamento da dor articular.
Dr. Durval Campos Kraychette
Editor da Revista Dor
A campanha é para combater uma doença com alta prevalência em nosso meio – tanto artrose de quadril, quanto a de joelho. É um dos principais desafios do médico que lida com dor, pois os pacientes, normalmente, têm mais de 60 anos, e é uma doença que leva à incapacidade, limitando atividades da vida diária e com repercussões importantes.
O grande problema da dor articular é que muitas das soluções encontradas na literatura consistem na substituição desses locais lesionados por próteses e nem sempre o acesso à prótese é fácil. Nos serviços públicos há filas enormes, com pessoas que esperam por muito tempo uma substituição da articulação. A luta maior da dor articular é encontrar soluções mais simples e mais baratas, reduzindo ao máximo os efeitos adversos dos medicamentos utilizados no tratamento.
Ao fazer uma campanha que ajude a evidenciar a fisiopatologia da dor articular e quais são os mecanismos que implicam na redução da dor; promovendo um questionamento em torno de soluções com pesquisas clínicas experimentais para elaborar novos tratamentos de menor risco à população.
Dr. José Oswaldo de Oliveira Jr.
Diretor do Centro de Dor e Estereotaxia no Hospital A.C.Camargo Cancer Center
Um ano dedicado à dor articular traz à tona a necessidade de pensar no bem estar de inúmeros pacientes que sofrem com esse tipo de problema, atraindo a atenção de toda a sociedade médica e de outros profissionais de saúde. O doente apresenta redução da capacidade de atividade, com considerável comprometimento dos movimentos, além de diminuir a mobilidade. Quando conseguem aliviar sua dor, sua capacidade respiratória melhora, bem como a capacidade de locomoção, livrando-se da cama ou da cadeira.
Entender que a dor articular, faz parte um quadro inflamatório, pode ria reduzir arte da degeneração articular. Muitos doentes cardíacos sofrem de dores articulares decorrentes da tentativa da prática de exercícios físicos e manutenção de uma vida ativa precrita pelos seus cardiologistas. Ter o mundo inteiro estudando a dor articular é um fator importante para melhorar o atendimento a estes pacientes.
Em ano de Olimpíadas no Brasil, ocasião na qual as articulações dos atletas serão exigidas até o limite, é de extrema importância discutir a condição da dor articular e, sobretudo, as terapêuticas coerentes para cada caso. Muitos atletas já tiveram sua carreira abreviada graças a tratamentos inadequados. É dever de todos difundir a preocupação com as articulações.
Paulo Renato Barreiros da Fonseca
Diretor Científico da SBED
Todos os anos, a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) ano elege uma patologia que merece mais atenção, destacada como tema de eventos científicos - e também aqueles voltados ao público leigo -, cujo objetivo é promover o treinamento tanto daqueles que tratam quanto daqueles que acompanham os indivíduos que sofrem com o problema. Deste modo, amplia a divulgação e dissemina conhecimentos aos familiares, pacientes, cuidadores e os próprios agentes de saúde, visando sensibilizar os envolvidos com as possibilidades de diagnóstico e tratamento de doenças que geram dor crônica.
Entre as dores mais incapacitantes, destaco especialmente aquelas sofridas por mulheres com idade mais avançada, a dor crônica no joelho. Elas se tornam limitadas em seu autocuidado e mobilidade, pois as articulações são particularmente dolorosas e o joelho é um órgão determinante para locomoção. Em meu ponto de vista, esta é uma articulação que deve ser mais bem avaliada e tratada.
Contaremos com ações no site da Sociedade, incluindo depoimentos para ilustrar o sofrimento doloroso e os tratamentos. Como diretor científico da Sociedade, programamos dois eventos dedicados à população, na cidade do Rio de Janeiro, que estão em fase final de organização. Os locais prováveis serão o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia e o Centro Médico das Américas, porém, ainda confirmaremos os detalhes.
Nossa campanha está focada basicamente em três alvos principais: conscientização e esclarecimento do paciente, que precisa conhecer os tratamentos, saber que são acessíveis na rede pública e privada; compreensão dos médicos e profissionais de saúde, como enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, entre outros, sobre a existência das patologias, sua ação incapacitante e que devem ser direcionadas precocemente para um tratamento específico a fim de resultar em um melhor prognóstico; e os agentes de saúde comunitária, que devem estar aptos para o diagnóstico e encaminhamento adequado dos portadores do problema.
Silvia Regina Dowgan Tesseroli de Siqueira
Membro da Equipe de Dor Orofacial e do Centro Interdisciplinar de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
Em 2016, a dor articular foi o tema escolhido, e sua relação é muito próxima a diversas áreas médicas como reumatologia, ortopedia, pediatria, e até a odontologia. É uma excelente oportunidade de mostrar à população, assim como aos profissionais da saúde, de um modo geral, as causas e as possibilidades de doenças que envolvem a articulação, que possam ser identificadas e tratadas. Além disso, é essencial que se invista na formação e capacitação profissional nas diversas áreas da saúde, de modo a classificar e tratar as dores articulares adequadamente.
Minha área de atuação é a dor orofacial. As dores orofaciais articulares mais conhecidas são algumas disfunções temporomandibulares (DTM), mas também as dores periodontais podem ser consideradas articulares. Apenas uma parte das DTM são de causa articular explusiva, e podem ter como causa doenças locais ou sistêmicas, como a artrite reumatóide.
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são imprescindíveis para evitar a cronificação da dor e prevenir a ocorrência de eventuais complicações. Minha participação atual veio por meio de um vídeo didático e explicativo a respeito da dor articular, em comemoração à campanha, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Rxq_sy0WfRg
Juliana Barcellos de Souza
Secretária da SBED
Atuaremos em três níveis fundamentais. O primeiro deles e social: as dores articulares advêm de uma patologia, muitas vezes ocasionada pelo envelhecimento populacional, comprometendo as articulações. Queremos quebrar essa sensação de vulnerabilidade frente às dores, deixando as pessoas proativas para combater e evitar a piora. Um ponto importante da campanha será quebrar os mitos criados ao redor da dor articular: no site temos um quis de mitos e verdades que, ao passar do ano, desvendaremos com conteúdo científico.
Outro ponto é a atenção aos profissionais, auxiliando-os na conscientização de que o sedentarismo dói e pode piorar a dor – todavia é importante ressaltar que o exercício físico deve ser realizado com acompanhamento de um profissional, para evitar lesões e fraturas. Além disso, o intervalo entre a pesquisa e a sua inserção na prática clínica é de, em média, dez anos. Com o Ano Mundial da Dor Articular iremos avançar algumas novas descobertas na área, adiantando esse processo.
Por fim, voltaremos nossa atenção às grandes instituições, levando a eles o conhecimento sobre o impacto da dor articular, razão de muitos afastamentos e aposentadorias por invalidez. Nosso objetivo é mostrar as diferentes formas de auxiliar esse funcionário, melhorando sua produtividade no trabalho a partir da compreensão do problema.
Ao longo do ano a SBED realizará workshops para atualização dos profissionais em todo o Brasil.
Abrahão Fontes Baptista
Fisioterapeuta, mestre e doutor em ciências morfológicas, pós-doutorado na Universidade de Westen, Austrália
A dor articular representa um dos males musculoesqueléticos mais comuns. No Brasil, sabemos que a prevalência da dor crônica é alta, em torno de 40%, e a região mais afetada é a lombar, seguida do joelho. Não estamos certos sobre qual estrutura gera o problema, porém, as articulações dessas áreas são fontes dolorosas importantes. Consequentemente, deparamo-nos com alto índice de incapacidade na população, pois as pessoas não conseguem se mover de forma adequada. Essa falta de movimento cria um círculo vicioso, ou seja, o indivíduo não se move bem por que dói, e por que é doloroso não se locomove, o que compromete, inclusive, sua participação social.
Na maioria das vezes, essas pessoas já procuraram uma série de profissionais diferentes, que aplicaram diversos tratamentos e solicitaram vários exames, no entanto, a terapêutica não é efetiva e as análises não são conclusivas. Por isso, é muito importante aplicar uma abordagem multidisciplinar para tentar compreender melhor a dor articular, desenvolver métodos diagnósticos e terapêuticos mais eficazes, e principalmente, educar a população nesse sentido. Um bom exemplo é a obesidade, que aumenta o risco de dor nas articulações, o que geralmente decorre de hábitos inadequados. Se a população modificasse seu comportamento, sentiria menos o problema, e aí entra a questão da educação.
Preparamos um vídeo que mostra a importância de tentar conhecer e modificar o cérebro para melhorar a dor das pessoas. Nele, apontamos que a dor articular está muito relacionada à mudança cerebral, portanto, a abordagem não deveria ser voltada somente à articulação.
Ana Paula Monteiro Gomides Reis
Médica reumatologista, Pós graduação da Universidade de Brasília
A dor articular é uma causa extremamente frequente de desconforto e limitação de mobilidade, com consequentes prejuízos nas atividades diárias, atuação profissional e qualidade de vida dos pacientes. É um sintoma que pode ser ocasionado por várias doenças e lesões diversas.
Um diagnóstico precoce e adequado deve ser altamente estimulado. O tratamento correto pode favorecer a evolução e o prognóstico. Todos os pacientes com dor articular devem ser submetidos à avaliação médica.
Brasília sediará o Congresso Brasileiro de Reumatologia em 2016 (https://sbr2016.com.br). Neste evento, aulas e debates diretamente relacionados ao assunto reforçarão a importância de discutir o tema e promover ações tão significativas no que tange ao Ano Mundial da Dor nas articulações.
José Roberto Provenza
Diretor da Sociedade Brasileira de Reumatologia
Prof. Titular de Reumatologia da PUC-Campinas
A preocupação da SBED e da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) está voltada à divulgação da dor articular, englobando o diagnóstico e tratamento precoce das enfermidades que acometem o aparelho osteo-articular – principalmente as mais comuns e frequentes, como a osteoartrite, lombalgias, lombociatalgias, fibromialgia, tendinites, bursites, dor miofascial, artrite reumatóide, entre outras diversas enfermidades com repercussão articular.
Temos mais de uma centena de doenças que afetam o sistema motor e é extremamente importante conscientizarmos os pacientes para não haver limitações funcionais, cujas dores podem levar à perda de habilidades profissionais e à má qualidade de vida. Inclusive, chamo atenção para a fibromialgia, muito estudada nos últimos anos. Informações sobre todas essas patologias devem ser amplamente divulgadas entre a população, a fim de fornecer subsídios para identificar, diagnosticar e tratar precocemente.
Inclusive, outro ponto importante é o autodiagnóstico crescente, por meio da internet. O paciente não pode retardar o atendimento médico, muito menos trocar a visita ao especialista por uma consulta eletrônica errônea. A automedicação também é batalha que enfrentamos e ainda é muito frequente em situações de dor. Além de obstruir o diagnóstico precoce da enfermidade, remédios do tipo anti-inflamatórios que bloqueiam a dor podem ser agressivos para o fígado, estomago e rins, por exemplo.
Marcelo Pires Prado
Mestre e Doutor em Ortopedia e Especialista em pé e tornozelo
Uma maioria absurda das patologias que acometem o sistema osteoarticular é acompanhada de dor: tanto as doenças relacionadas a algum trauma – lesões ligamentares, estendidas e fraturas –, quanto doenças puramente ortopédicas – relacionadas a deformidades ou lesões degenerativas. O paciente não vai ao ortopedista para queixar-se de um problema específico no joelho, mas para falar da dor – e isso merece grande atenção. Nosso objetivo é tratar este sintoma, o que envolve diversos procedimentos: diagnóstico adequado, exame físico, história, entre outros. A dor acontece em todas as situações e pode apresentar intensidades diferentes: quando leve, traz poucas consequências à pessoa – há certo desconforto, mas, no geral, é facilmente tratável. Porém, o paciente não pode aceitá-la quando for muito intensa, visto que isso não é normal e ainda resulta em diversos problemas, como os emocionais, causados pelo desconforto momentâneo, assim como situações mais graves, nas quais outras áreas do corpo são afetadas. Há momentos em que o sistema nervoso – responsável pela percepção da dor – começa a funcionar de forma atípica, provocando dores extremamente difíceis de tratar – as chamadas distrofias ou dores complexas regionais.
É possível diminuir a incidência destes episódios de tratamento prolongado e difícil uma vez que tratamos a dor adequadamente logo que ela surge. A importância do Ano Mundial da Dor Articular é realmente chamar a atenção e abrir os olhos das pessoas, pois dores de qualquer intensidade podem, sim, ser tratadas. É imprescindível que essas informações estejam ao alcance da população.
Ilona de Oliveira Colen Lorentz
Psicóloga em especialização em terapia de família
Tenho uma longa experiência pessoal com a dor articular, que afeta meus joelhos, minhas costas e algumas outras áreas. Mais recentemente, em dezembro de 2013, tive um problema sério de coluna e que meu trouxe algumas incapacitações - a síndrome da cauda equina, que é bastante rara -, além de uma disfunção chamada bexiga neurogênica. A fisioterapia foi a grande salvação para evitar uma intervenção cirúrgica. Meu diagnóstico foi tardio, então por um bom tempo fui medicada apenas com relaxante muscular e anti-inflamatório. Os médicos não sabiam o que eu tinha, a confirmação veio apenas após seis meses da crise de coluna, em que logo iniciei as sessões com um fisioterapeuta.
Como psicóloga, atendi muitos pacientes submetidos à cirurgia que eu precisava fazer, cuja consequência foi a tetraplegia. Na época, eu tinha apenas 32 anos, e não quis me arriscar. Sigo até hoje com a fisioterapia, que é fundamental para estabilizar o quadro, me manter longe dos hospitais e distante de incapacitações, inclusive de trabalho – após a crise, tive que parar de trabalhar. Minha experiência com a dor no dia a dia é frequente, pois ela está sempre comigo. Meu problema traz não apenas a dor articular, mas a neurogênica também. Por isso, considero de extrema relevância falar sobre o tema, uma vez que milhares de outras pessoas também convivem com dor articular e outras dores, de outras origens, muitas vezes negligenciadas.
É comum atribuir a causa a um movimento brusco, ao posicionamento inadequado ao dormir ou até mesmo ao colchão, e nem sempre procuram acompanhamento médico. É de suma importância tratar e divulgar a dor articular, abrir o espaço para essa discussão, assim como ocorre com tantas outras, de outras áreas e especialidades médicas. Serve de alerta à população em geral, pois deve existir um volume significativo de pessoas que sofrem com esses males e, no entanto, não sabem como lidar.
Priscila Torres
Paciente e Coordenadora da ONG EncontrAR
Tenho artrite reumatoide há nove anos e meio. Comecei a ter dor com 25 anos, me automedicando por um ano e acreditando ser o reflexo do estilo de vida que eu levava à época. Porém, comecei a enxergar como um possível problema ao me deparar com minhas dificuldades para realizar tarefas sozinhas, sobretudo no trabalho, precisando de ajuda de colegas para terminar atividades que antes conseguia executar com tranquilidade. Atuava como auxiliar de enfermagem e não mais era capaz de controlar o atendimento a uma criança na emergência, além de derrubar tampas e itens semelhantes. Um dia, ao acordar com tornozelos, joelhos, mãos e punhos inchados, sem conseguir levantar-me da cama, procurei um médico – já no pronto socorro recebi o diagnóstico.
Atualmente convivo muito melhor com a minha situação de dor, comparando ao momento do diagnóstico; ainda que hoje tenha mais dores em consequência da progressão da doença e das lesões que ocorrem concomitantemente. Minha vida mudou completamente nos últimos anos: adaptei-me para ter autonomia, principalmente dentro de casa, com móveis de fácil acesso e utensílios para pegar objetos do chão, por exemplo. Faço jornalismo e na faculdade utilizo apenas escrita digital, pois, ao escrever mais de dez linhas com a caneta, minha letra perde a legibilidade.
Uma campanha como o Ano Mundial da Dor Articular é fundamental para eliminar o “achômetro” e conscientizar a população da importância de identificar o problema e tratá-lo corretamente – vale frisar que a livre venda de analgésicos e anti-inflamatórios compromete o diagnóstico precoce.
Dr. Bernardino Santi
Médico do Comitê Olímpico Brasileiro e da Comissão Brasileira de Boxe, Esgrima e Taekwondo
Como médico do esporte, encaro, do ponto de vista cínico, o Ano Mundial da Dor Articular como uma ação fundamental. O atleta convive com a dor desde que começa a competir, sendo prejudicado nos casos de diagnóstico tardio. A conscientização proposta por meio da campanha fornecerá mais uma ferramenta para combater este problema. Infelizmente, cultivamos a cultura equivocada de buscar diagnóstico e tratamento no balcão de farmácia, a priori, adiando a visita ao especialista.
A dor articular é presença constante no consultório, uma vez que as articulações podem ser agredidas de diversas formas – as mais frequentes são as de causas metabólicas, infecciosas e mecânico-traumáticas. Desta forma, admiro a iniciativa da SBED em realizar esta campanha, elucidando para este tão importante quadro. Com uma equipe multidisciplinar, agregando profissionais de diferentes áreas, teremos uma abordagem mais ampla e completa.
Benno Ejnisman
Chefe da Disciplina de Medicina Esportiva da UNIFESP
Nos dias de hoje, podemos contar com mecanismos para tratar a dor na maioria dos casos. Ou seja, encontrar pacientes que permanecem com um quadro grave de dor está cada vez mais raro. Por isso, incentivos como esse, promovido pela SBED, são fundamentais para levar informação de qualidade à população, sobretudo acerca das características da dor crônica.
Como cirurgião de ombro, recebo no consultório grandes queixas relacionadas à dor articular – graças ao avanço da medicina e do manejo da dor, temos diversas medidas clínicas e cirúrgicas importantes para oferecer ao paciente. Inclusive, uma equipe multidisciplinar bem preparada é essencial, tendo em seu escopo especialistas da dor, fisioterapeutas, psicólogos, por exemplo.
Parabenizo a Sociedade pela promoção da conscientização, por meio da iniciativa do Ano Mundial da Dor Articular. Somente quando informamos às pessoas sobre sinais, sintomas e opções terapêuticas, elas poderão buscar conhecer melhor seu problema e as formas de acabar com ele.
Dr. Rames Mattar Júnior
Professor associado do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP)
É muito importante chamar a atenção para o problema da dor nas articulações. Sabemos que a dor oriunda do sistema musculoesquelético em geral possui alta prevalência em todo o mundo; quanto mais informada a população estiver, melhor para um diagnóstico precoce e um prognóstico favorecido.
Alguns fatores podem ser responsáveis pela instalação deste mal. Entre eles, à medida que a expectativa de vida aumenta, enfrentamos uma elevação significativa nos índices de dor articular. Temos, ainda, uma sociedade cada vez mais predisposta a acidentes e traumas, e até mesmo por essa demanda de atividade física por uma qualidade de vida saudável. Todas estas situações acabam provocando distúrbios no sistema musculoesquelético. Por isso, é fundamental tratar a dor aguda, falar sobre os recursos disponíveis para identificá-la e trata-la, assim como instruir a nossa sociedade sobre o tema.
Eduardo Frota Carrera
Médico ortopedista e traumatologista do Hospital Israelita Albert Einstein, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo e da Sociedade Latino-Americana
Sou ortopedista especialista em ombro e cotovelo e lido frequentemente com casos envolvendo o problema, por isso reforço a importância da discussão levantada pelo Ano Mundial da Dor Articular. As articulações do membro superior são acometidas por algumas patologias e, entre elas, podemos destacar dois grupos importantes responsáveis: as lesões degenerativas, que correspondem ao envelhecimento biológico do nosso organismo, e as lesões inflamatórias, advindas de inflamação.
Considerando que o ombro e o cotovelo são articulações de movimento, todas as atividades com as mãos são decorrentes de um bom funcionamento deles e, principalmente, das estruturas dinâmicas que promovem os movimentos - músculos e os tendões. Com o passar dos anos, dependendo das atividades exercidas, há um desgaste da região. O primeiro sinal, talvez o mais importante, de que existe algum comprometimento nestas articulações é a própria dor. Por conta disso, essas alterações, em especial as degenerativas, devem ser investigadas. E somente com uma população bem informada podemos alcançar o breve diagnóstico, seguido de uma intervenção terapêutica bem sucedida.
Este cenário está diretamente relacionado ao tipo de vida que as pessoas levam. Um atleta profissional paga um preço mais alto em relação aos atletas recreativos no que tange ao desgaste destas articulações. Quanto maior a demanda, especialmente em alto nível esportivo, maiores os danos. Além disso, existem alterações inflamatórias, que podem ser específicas ou não, que acometem todo o nosso organismo. Elas devem ser reconhecidas e tratadas também, como ocorre, por exemplo, em um processo inflamatório decorrente de calcificação no tendão - uma das alterações inflamatórias e uma das dores mais intensas no ombro.
É importante uma identificação diagnóstica precisa para determinar se a dor é decorrente de alteração degenerativa ou inflamatória, pois o tratamento é diferente de acordo com cada etiologia. O reconhecimento de queixas dolorosas que geram bastante desconforto e restrição de atividade diária melhora a qualidade de vida do paciente, uma vez que o membro superior é imprescindível para uma rotina normal de trabalho ou mesmo esportiva.
Como um dos primeiros indícios que aparece nas lesões musculoesqueléticas, ortopédicas, a dor deve ser valorizada como um indicativo de que algo está errado. Na presença de queixa muito dolorosa, o indivíduo deve buscar atendimento e esclarecimento médico especializado a fim de prevenir lesões piores. Campanhas como esta ajudam a minimizar o número elevado de casos e a promover uma educação em saúde e conscientização adequada.