Dor Obstétrica
O que é a dor obstétrica?
Pode ocorrer dor relacionada com o parto durante a gravidez; durante o trabalho de parto, quando mais de 95% das mulheres informam dor, ocasionalmente, durante a operação cesariana (caesarean section) se existir um bloqueio de nervos de qualidade deficiente ou uma cirurgia prolongada; e depois do parto, quando mais de 70% das mães informam dor aguda ou crônica.
Dor relacionada com o trabalho de parto como modelo de dor aguda
Foi descrita a dor relacionada com o trabalho de parto como uma ferramenta ou modelo clínico utilizado para estudar a dor aguda (1). A maioria das mulheres informa que experimentam dor durante o trabalho de parto, mas o grau da dor é de intensidade variável. Os principais fatores determinantes da intensidade da dor são:
Paridade.
Por exemplo, quando se mediu a intensidade da dor durante o trabalho de parto utilizando uma escala unidimensional (quer dizer, leve, moderada e intensa), 60% das mulheres nulíparas e 45% das mulheres multíparas descreveram sua dor como intensa.
Dor dorsal durante a gravidez.
Preparação prévia ao parto.
Postura vertical durante o trabalho de parto.
Quando se comparou a intensidade da dor durante o trabalho de parto com a medida durante outras condições de dor, utilizando a escala multidimensional do questionário da dor de McGill (McGill Pain Questionnaire) (1), o maior grau foi informado por mulheres nulíparas durante o trabalho de parto seguido por (em ordem de classificação):
- Dor relacionada com o trabalho de parto em mulheres nulíparas que assistiram aulas de pré-parto para preparar-se para o trabalho de parto.
- Dor relacionada com o trabalho de parto em mulheres multíparas.
- Dor dorsal crônica.
- Dor por câncer.
- Dor de dentes.
- Dor por fratura.
Dor pós-parto
A dor abdominal é um sintoma freqüente nas mulheres depois do parto vaginal (2). Um grau de dor ‘moderado’ e ‘intenso’ é duas vezes mais freqüente nas mulheres multíparas (58%) que nas mulheres nulíparas (30%). Na maioria das mulheres (96% das mulheres nulíparas e 81% das mulheres multíparas), isto se vê exacerbado pela causa da lactância. Porém, se alivia a dor mediante terapias padrão somente na metade destas mulheres. A dor abdominal tem uma relação temporal com as contrações uterinas, e sua intensidade aumenta significativamente com a paridade e a duração da contração uterina (3). Portanto, estes estudos identificaram mulheres que experimentam dor em um momento de ausência de analgesia adequada.
Influências psicossociais
O parto suscita uma ampla gama de emoções, expectativas e experiências (4), o que sugere que os fatores psicossociais desempenham um papel importante. Por exemplo, se acredita que um fator que contribui para o aumento das taxas de partos cesarianos é o medo da mãe em relação ao parto (5). O medo e a ansiedade são influências significativas nas experiências da dor, e isto é uma das razões pelas quais as mães são acompanhadas por outra pessoa durante o parto. Os fatores psicossociais também são importantes durante uma cesariana. Por exemplo, um estudo relacionado com a cesariana eletiva encontrou que os medos das mães alcançavam seu ponto máximo no momento do seu bloqueio de nervos; e que os fatores psicossociais, inclusive as expectativas negativas, a falta de controle percebida sobre os analgésicos, o medo durante a cesariana e o medo do seu par, predisseram a intensidade da dor pós-parto (6). Assim, a dor obstétrica não só está relacionada com o processo físico do parto, senão também com os fatores psicossociais que operam neste momento.
Evidências a serem consideradas para o manejo da dor durante o trabalho de parto
Os informes baseados em evidências de Cochrane pesquisaram fatores que podem influenciar a dor no trabalho de parto:
(a) O apoio contínuo por parte de um parceiro ou cuidador pode reduzir a freqüência do uso de analgésicos epidurais e a quantidade de outros analgésicos administrados a uma mãe (7).
(b) Os banhos de imersão durante o trabalho de parto reduzem a intensidade da dor e o uso de analgésicos (8).
(c) As terapias complementares e alternativas, tais como a auto-hipnose e a acupuntura diminuem a quantidade de alivio da dor requerida durante o trabalho de parto (9).
(d) Os analgésicos epidurais, em comparação com os analgésicos não-epidurais ou a falta de alívio da dor, trazem mais alivio para a dor e satisfação para a mãe sem aumentar os riscos da cesariana, depressão fetal ou dor dorsal a longo prazo. Os estudos supracitados não incluem as misturas farmacológicas de doses baixas utilizadas na prática na atualidade, de modo que os achados de um aumento de partos instrumentais ainda devem se confirmar (10).
(e) Adotar a posição vertical durante a segunda etapa do trabalho de parto pode reduzir a quantidade da dor intensa experimentada (11).
(f) A analgesia epidural espinhal combinada, quando se usa durante o trabalho de parto, induz o alivio da dor aproximadamente 5 minutos mais rápido que a analgesia epidural, mas causa mais prurido (12).
(g) Os opióides administrados por via intramuscular para aliviar a dor durante o trabalho de parto não são efetivos (13).
Copyright International Association for the Study of Pain, September 2007. References available at www.iasp-pain.org